Na correria do dia a dia,eu prosseguia ao meu destino – minha escola.Como de costume entrei no ônibus,sentei e esperei até a chegada do meu ponto.O assento era no final do ônibus,em uma cadeira antes da janela e,em frente a porta de saída.E um dos lados uma menina e do outro,vago,até um certo momento.
Durante as viagens,eu sempre refleti sobre mim e minha vida,afinal não a nada a se fazer em uma viagem longa de ônibus a não ser,pensar na vida.Pensei em poucas coisas esse dia,o motivo é bem plausível,pois algo na metade do percurso me tirou toda a atenção.
A campainha toca,alguns saem e,pela saída alguém entra.Negro,alto,magro com músculos definidos e,o mais marcante,um odor monstruoso.Pra minha não surpresa inicialmente,senta-se ao meu lado,arrastando em minhas narinas o seu suor fétido.Puxa um assunto comigo e pergunta:
- Esse ônibus vai pro Osmar Cabral?
Tentando desviar,respondo:
-Não sei.
Passado alguns instantes,insistentemente,se comunica comigo.Agora dizendo algo totalmente incompreensível,mas ele repete,sem eu sequer pedir:
-Eu amo meu irmão,eu vou lá ver ele,é por isso que eu sou louco assim.
Amedrontada por dentro,solto um “hum” com um sorriso amarelo e pensando em quanta sorte eu tenho,em seguir viagem com um louco do meu lado.A partir daquele momento,pensei coisas,não diria,absurdas,no entanto,hipóteses um pouco preconceituosas.Será que ele vai me bater?Ou talvez me seguir quando descer?E se ele resolver me atacar?
Por algumas vezes,ele ainda tenta falar comigo,porém,minhas respostas monossilábicas e,cada vez mais frias,fizeram-o desistir de um diálogo “amigo”.
Algumas pessoas podem falar que agi por puro instinto de defesa – meu pai -,para outros por racismo,mas eu mesma diria que foi por ser preconceituosa – por ter levado apenas em consideração o fato dele ser louco,como ele disse,e consequentemente,anulando o ser humano que tinha ao meu lado -,e principalmente,HIPÓCRITA,por me achar mais sã do que aquele homem.
E agora eu me questiono,o que me fez pensar que eu sou melhor que ele?O meu perfume importado,comparado ao seu suor fétido?A minha sanidade mental?Ou talvez isso seja imposto goela abaixo,e eu aprendi a pensar assim?Ou seja,às pessoas pobres,desconfia-se e às ricas entrega-se?Aos loucos distancie-se e aos sãos aproxime-se?É isso?Pré-julgar?
Hoje,realmente,eu me sinto suja.Não,ele sequer encostou em mim!Eu digo suja por dentro,minha mente está podre,mais que ao homem que me impressionou essa tarde.Está fétida de hipocrisia,preconceito,amargura,de coisas que passam já corriqueiras no dia a dia.
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